dezembro 9, 2025
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CCXP2025: entre filas, ausência de estúdios e a força das HQs

Multidão lota corredores da São Paulo Expo: edição foi marcada pela espera em filas e pelo brilho dos quadrinistas independentes. Foto/Reprodução

Sem Netflix e com espera de 4h, maior evento pop do país enfrenta desafios, mas área de quadrinistas salva a experiência e resgata a alma do evento.

A mais recente edição da CCXP, encerrada neste domingo (7), deixou claro que o maior evento de cultura pop da América Latina vive um momento de transição — e de cansaço. O que se viu no São Paulo Expo foi uma feira que, embora tenha atraído milhares de fãs apaixonados, deu sinais visíveis de fadiga, trocando os grandes anúncios exclusivos por uma experiência marcada, infelizmente, pela paciência.

A debandada dos gigantes

Foto/Reprodução Folha.

Há onze anos, a CCXP se consolidou como o palco sagrado para trailers inéditos e a presença de astros de Hollywood. Porém, neste ano, o cenário mudou drasticamente. A Netflix, historicamente dona dos painéis mais disputados, não participou, deixando um vácuo na programação. Seguindo o fluxo, Universal e Apple também pularam fora, enquanto a Disney optou por uma presença tímida, focada em uma loja da Pixar com preços salgados, em vez de grandes experiências.

Essa mudança reflete uma nova estratégia da indústria: estúdios agora preferem investir em eventos próprios, como o Tudum (Netflix) e a D23 (Disney), ou em ativações nichadas, dificultando o diálogo direto com o público brasileiro em feiras gerais.

O teste de resistência dos fãs

Com menos opções de peso, o público se aglomerou no que restou. Quem quis curtir a casa mal-assombrada de It: A Coisa (Warner Bros. Discovery) enfrentou impressionantes quatro horas de fila no sábado,. Para brincadeiras de The Boys e Supergirl, a espera passava de uma hora e meia.

A desorganização atingiu até o básico: a retirada de credenciais para jornalistas e expositores chegou a levar duas horas, com filas confusas e falta de informação. Enquanto isso, marcas fora do universo geek, como bancos e petrolíferas, ocuparam espaços gigantescos, competindo em tamanho com os estúdios de cinema.

Painel com Elenco da Série na CCXP25. Foto/Divulgação Prime Vídeo

Apesar dos desfalques, a Warner, a Amazon Prime Video (com Fallout) e a Paramount+ garantiram a diversão, trazendo astros internacionais e mantendo a chama acesa. A Diamond Films também marcou presença com Timothée Chalamet, promovendo Marty Supreme.

O refúgio criativo: Artists’ Valley

Foto: Mangabeira

Se as filas e a ausência de grandes players frustraram parte do público, a alma da CCXP permaneceu intacta e vibrante no Artists’ Valley. Longe da megalomania corporativa, o espaço dedicado aos quadrinistas e ilustradores se firmou como o “ponto alto” e o local mais agradável do evento,.

Com corredores menos tumultuados, artistas simpáticos e preços mais justos por obras originais, o vale dos artistas provou ser o coração pulsante da feira. Ironicamente, a crise dos grandes estúdios acabou devolvendo o protagonismo a quem deu origem a tudo isso: os criadores de histórias em quadrinhos.

Ao que parece, a versão brasileira está se alinhando ao modelo de convenções internacionais como a San Diego Comic Con: muitas lojas, filas imensas e um foco crescente no comércio, um processo natural, ainda que amargo para os fãs mais nostálgicos.

Fonte: Folha

Editor
Ilustrador, cartunista e quadrinista com mais de 30 anos de carreira. Premiado internacionalmente, destaca‐se pela crítica ácida e humor irreverente. Agora, como editor do HQPOP, ele traduz a cultura pop com ousadia e criatividade.

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