Edição reúne correspondência para Ofélia Queiroz e Madge Anderson, com fotos e poemas inéditos organizados por Jerónimo Pizarro.
As cartas de amor de Fernando Pessoa nunca foram apenas cartas: são flashes de um dos maiores cérebros literários do século 20 tentando decifrar o próprio coração. Agora, parte dessa intimidade ganha nova luz na edição Cartas de Amor, um álbum visual editado por Jerónimo Pizarro — professor, tradutor e crítico responsável pelas principais edições do poeta desde 2006.
Destinadas em sua maioria a Ofélia Queiroz, com quem manteve uma relação pública e cheia de tensões, as missivas também revelam um capítulo quase secreto: o relacionamento do poeta com a misteriosa Madge Anderson, inglesa com quem trocou cartas nos últimos anos de vida. Essa correspondência pouco conhecida mostra um Pessoa menos hermético e mais humano — um escritor que, mesmo mergulhado em heterônimos, confessava saudades, hipocondrias e desculpas esfarrapadas (“Não foi culpa minha, mas do meu sono, que faltei à combinação”).

Entre diminutivos, afagos e ironias (“Todas as cartas de amor são ridículas”), surge um retrato íntimo do autor de Mensagem: o gênio que via nos compromissos afetivos um entrave à sua criação literária. Nas cartas para Madge Anderson, no entanto, o jogo se inverte. Ela o chama de “velho tonto dramático” e não hesita em colocá-lo na linha — um contraste poderoso para quem sempre pareceu dominar a cena epistolar.
Pizarro não apenas organiza e revisa datas, mas situa cada documento no contexto da vida e da obra de Pessoa. Inclui poemas inéditos incorporados às cartas e pistas inéditas sobre os bastidores dessa correspondência. O resultado é uma edição que funciona como álbum visual e mapa emocional, ampliando o universo pessoano.

“Pessoa queria ser plural como o universo, e é isso que hoje se verifica: sua maior pluralização, acompanhada de uma maior universalização”, defende Pizarro.

A edição da Tinta da China reforça a experiência tátil e visual: letras grandes, cantos boleados e capa com textura aprazível transformam o livro em um objeto que convida tanto à leitura quanto à contemplação — quase uma exposição portátil da intimidade do poeta.