Pela primeira vez, artistas do Norte conquistam 4 troféus no HQMIX. Descubra como Onde Habita o Medo e o amazonense Luiz Andrade reescreveram a história da nona arte brasileira.
A Revolução nortista virá pelos quadrinhos: como a Amazônia conquistou o HQMIX e mudou o jogo dos quadrinhos
A cerimônia de entrega do Troféu HQMIX 2025, realizada em São Paulo, entrou para a história e definiu um novo polo criativo na nona arte brasileira. O evento, frequentemente chamado de “Oscar dos quadrinhos brasileiros”, consagrou artistas da Região Norte, marcando uma virada histórica ao entregar quatro premiações a criadores amazônicos em uma mesma edição.
O auditório explodiu em vibração enquanto os quadrinistas nortistas subiam ao palco, uma imagem que já circula amplamente nas redes e simboliza o novo e incontestável protagonismo da produção amazônica no país.
O Grito ancestral de ‘Onde Habita o Medo’

A grande sensação da noite foi a HQ Onde Habita o Medo, uma criação conjunta que uniu o talento da roteirista paraense TAI e do desenhista amazonense Nilberto Jorge. A obra não apenas chamou a atenção, mas levou para casa três troféus, consolidando-se como um dos trabalhos mais celebrados do HQMIX 20253.

A roteirista TAI garantiu o prêmio de Novo Talento Roteirista. A HQ, que mistura estética autoral, cenário amazônico e uma narrativa profundamente ancestral, também levou as estatuetas de Melhor Publicação Independente de Edição Única e Melhor Publicação de Aventura/Terror/Fantasia.
Em seu discurso emocionante, TAI afirmou que a luta por espaço no mercado vai além do sucesso pessoal. “A gente luta pra conquistar espaços nos mercados não pensando no nosso sucesso pessoal, mas pensando que queremos deixar um legado para os nossos territórios de que nossas histórias importam”. Ela ainda declarou sua crença de que o povo do Norte continuará sua jornada de “brilhar em novos espaços”.
O desenhista Nilberto Jorge, vencedor de duas categorias pela obra, reforçou o coro regional: “Espero muito que, com esse prêmio, tenham mais portas sendo abertas para o quadrinho nortista”. Nilberto expressou o desejo de que o trabalho da região seja valorizado e que o quadrinista nortista sinta “orgulho de dizer que faz quadrinhos e que é do norte”.
Exposição que conta uma história de luta

Outro momento de destaque, que reforçou a visibilidade inédita da produção da Amazônia, foi a premiação do amazonense Luiz Andrade. Ele subiu ao palco para receber o troféu de Melhor Exposição pela mostra Sangue, Suor e Nanquim – O Novo Quadrinho Nortista.
A exposição, que percorreu os últimos 10 anos da produção do quadrinho do Norte, celebrou a importância dessas iniciativas para aproximar o público do circuito cultural brasileiro5. Luiz Andrade deixou claro que a vitória representa mais do que um mérito individual: “Este prêmio não é apenas meu. Aliás, ele é muito mais de outros do que meu”6. Ele enfatizou que o projeto sempre tratou de identidade, luta e um legado construído com esforço, referindo-se aos artistas que produziam há décadas “sem aparecer em listas de recomendação de leitura, sem serem publicados ou sequer enxergados por editores e editoras”.
Protagonismo é realidade
Para o movimento Norte em Quadrinhos, que trabalha na difusão e profissionalização dos artistas da região, a conquista de quatro categorias diferentes no HQMIX representa uma consolidação. Sâmela Hidalgo, idealizadora do movimento, ressaltou que a excelência sempre existiu, mas o mercado historicamente invisibilizou esses talentos.
“Ver quatro troféus do HQMIX chegarem à nossa região confirma aquilo que nós, do Norte em Quadrinhos, sempre soubemos: a força das nossas histórias, que carregam ancestralidade, pertencimento e pluralidade, é imensa”.
O feito de 2025 se estabelece como um divisor de águas, provando que a distância geográfica dos grandes centros editoriais não impede a região de impor sua presença de forma criativa e transformadora9. Segundo Hidalgo, a única barreira para os artistas amazônicos é a oportunidade, e quando ela se apresenta, “mostramos que nosso talento não conhece fronteiras”7. O consenso é um só: o Norte agora vive a consolidação como o novo polo de produção da nona arte no Brasil7.




