Assassino cínico, profecias e horror gótico: descubra por que esta série francesa brutal, com alma de western medieval, é a mais ambiciosa do streaming.
A Netflix acertou em cheio com Nero (Néro the Assassin), sua nova aposta francesa que chega ao streaming como uma das produções europeias mais ambiciosas de 2025. Longe dos dramas de época tradicionais, a série dirigida por Allan Mauduit (de Kaboul Kitchen) entrega uma jornada intensa que funde ação, drama e uma complexa busca por redenção, com um protagonista que se equilibra na linha tênue entre ser herói e vilão.
Um Cenário de Caos e Salvação Profetizada
A trama nos transporta para 1504, no sul da França, devastado por uma seca brutal. É neste cenário de desespero que conhecemos Néro (interpretado potentemente por Pio Marmaï), um assassino cínico e mercenário a serviço do conselheiro Rochemort. Enquanto Rochemort arquitetava tramas políticas, o Vaticano descobria uma profecia sinistra: o demônio estaria prestes a possuir o corpo de uma criança.
Essa criança é Perla (Lili-Rose Carlier Taboury), a filha de Néro, que ele havia deixado anos antes em um orfanato sob os cuidados do Padre Horace (Olivier Gourmet).
Quando as forças religiosas descobrem o paradeiro da garota, Néro é forçado a agir. Ele precisa resgatar Perla, iniciando uma fuga desesperada pelo interior da França, perseguido por fanáticos religiosos mascarados conhecidos como Os Penitentes. O resultado é uma jornada brutal e cheia de reviravoltas, onde pai e filha lutam pela sobrevivência em meio a traições e visões de um mundo em ruínas.
A Alma Sombria do Western Medieval
A série não busca fidelidade histórica. Os criadores Allan Mauduit e Jean-Patrick Benes assumem uma estética híbrida que mistura o realismo sujo do século XVI com o tom estilizado e árido de um spaghetti western. A atmosfera opressiva é reforçada pelas locações na França, Itália e Espanha.
Mas há mais que duelos silenciosos. Nero adiciona um forte toque de horror gótico. A presença dos Penitentes, com seus rostos cobertos de cal branca, estabelece uma sensação constante de fanatismo e ameaça. Para elevar o fator sobrenatural, a série ainda apresenta a personagem de Camille Razat (conhecida por Emily in Paris) como uma bruxa de um olho só e mensageira da morte.
A produção também reflete sobre temas pesados como culpa e fé. Néro, um pecador, beberrão e ateu, é forçado a encarar símbolos religiosos e a inevitabilidade do destino, dando um coração emocional à sua busca, mesmo que involuntária, por redenção.
Pio Marmaï Brilha como Anti-Herói Quebrado
Pio Marmaï assume seu personagem mais complexo como o assassino quebrado que encontra redenção ao tentar salvar a filha que abandonou. Ele impressiona, dando profundidade a Néro e evitando o clichê do anti-herói. O ator transita com maestria entre o sarcasmo e o desespero, equilibrando as cenas de ação coreografadas com momentos de profunda vulnerabilidade emocional.
A força da série reside justamente nos seus personagens sólidos e bem construídos. Além de Néro, Alice Isaaz se destaca como Hortense, uma jovem que precisa aprender a manipular para sobreviver em um mundo dominado por homens poderosos. A história foca no que realmente importa: o vínculo entre pais e filhas — Néro e Perla, Rochemort e Hortense — espelhando uma sociedade em colapso e dominada pelo poder patriarcal e religioso.
Veredito: Vale a Pena Mergulhar Neste Épico?
Sim, Nero: O Assassino vale o play, especialmente para quem curte dramas históricos com uma pegada moderna e sombria. A série é visualmente arrebatadora e impressionante, com atuações que elevam a produção a um patamar acima da média das séries históricas recentes da Netflix.
Embora o roteiro possa parecer denso em alguns momentos, o ritmo envolvente e os personagens complexos recompensam quem se dispõe a mergulhar neste universo moralmente ambíguo. Se você é fã de títulos como Vikings, The Witcher e Marco Polo, encontrará em Nero uma mistura semelhante de ação, misticismo e conflitos familiares. Com um final que deixa espaço para expansão, a série tem tudo para se consolidar como uma das melhores produções francesas do streaming.
