Clássico argentino de Héctor Oesterheld e Alberto Breccia retorna às livrarias com sua poderosa crítica política em meio à nova adaptação da Netflix.
A HQ “O Eternauta 1969”, de Héctor Germán Oesterheld e Alberto Breccia, vai ganhar uma nova reimpressão no Brasil pela Comix Zone. Escrito no calor das tensões políticas da América Latina do século 20, o quadrinho é considerado um marco da ficção científica engajada, e sua republicação marca o retorno de uma das obras mais emblemáticas dos quadrinhos latino-americanos às prateleiras nacionais.
Publicado originalmente como uma releitura radical da primeira versão de El Eternauta — desenhada por Francisco Solano López entre 1957 e 1959 —, o volume de 1969 aprofunda o caráter político e alegórico do enredo. O roteirista Oesterheld reimagina sua própria narrativa de invasão alienígena em Buenos Aires, agora com traços expressionistas e experimentais de Breccia. O tom é mais sombrio e direto: os inimigos extraterrestres se tornam metáforas quase explícitas da repressão militar e da ingerência imperialista na América Latina.
Oesterheld, que viria a desaparecer nas mãos da ditadura argentina nos anos 1970, é reconhecido como um dos maiores roteiristas da história dos quadrinhos hispano-americanos. Sua trajetória é inseparável da luta política — e essa carga ideológica está presente em cada página de O Eternauta 1969. Já Alberto Breccia, mestre das sombras e do traço perturbador, é o responsável por dar à obra uma dimensão estética revolucionária, rompendo com os padrões gráficos da época.
A nova reimpressão chega ao Brasil em julho, após estar esgotada desde 2021. A edição anterior, lançada em 2019, venceu o Troféu HQMIX de Edição Especial Estrangeira no ano seguinte e se tornou peça essencial para quem estuda a história das HQs políticas no continente. A redescoberta da obra vem na esteira da série adaptada pela Netflix, que estreou em abril e reacendeu o interesse pela saga de Juan Salvo — o homem comum lançado à resistência em um mundo tomado por forças que esmagam a autonomia e o senso de comunidade.
Mais do que ficção científica, O Eternauta 1969 é um testemunho gráfico de resistência, criado por dois artistas que enxergaram nos quadrinhos um campo de batalha simbólico e real.
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