Transformar histórias reais em arte é o que move Pablito Aguiar, quadrinista e jornalista gaúcho que vem se destacando por unir reportagem e narrativa gráfica de forma sensível e poderosa. Nascido em Alvorada (RS) e hoje radicado em Altamira (PA), onde atua como repórter-quadrinista na Sumaúma – Jornalismo do Centro do Mundo, Pablito usa seus traços para dar voz a pessoas e lugares muitas vezes invisibilizados. Nesta conversa com o HQPOP, ele fala sobre o impacto de Alvorada em Quadrinhos, a experiência de transformar uma conversa com Eliane Brum em HQ, sua rotina na Amazônia e a força do jornalismo em quadrinhos como ferramenta de escuta, memória e transformação social.

HQPOP: Seu trabalho mistura jornalismo e quadrinhos de um jeito muito particular. O que te atrai nessa interseção entre reportagem e narrativa gráfica?
Pablito Aguiar: Quando eu comecei a fazer quadrinhos eu já comecei a fazer jornalismo em quadrinhos. Eu na época trabalhava em um jornal local da minha cidade natal Alvorada no Rio Grande do Sul e ali eu comecei a entrevistar moradores da cidade como uma forma de valorizar e registrar a história do município e me apaixonei, sabe? Pela possibilidade de contar histórias reais através do meu trabalho que no Caso era os quadrinhos a Liane Brum fala uma coisa que ela se apaixonou pelo jornalismo quando ela entendeu que com o bloco e uma caneta ela poderia entrar em qualquer lugar e eu também sabe quando entendi que com o meu trabalho que com com o meu quadrinho eu poderia conhecer diversas vidas eu eu me encantei sabe? E desejei não parar nunca mais.
HQPOP: Em Alvorada em quadrinhos, você deu voz a histórias reais da sua cidade natal. Como foi esse processo de escuta e transformação desses relatos em HQ? Alguma história te marcou mais?
Pablito Aguiar: Marcou uma virada na minha vida porque eu antes de fazer Alvorada em Quadrinhos eu eu não gostava da minha cidade eu não valorizava ela eu tinha vergonha de dizer que eu morava em Alvorada mas depois que eu eu parei pra olhar pra ela eu comecei a entender mais sobre mim, entender mais sobre a minha cidade sabe? Era um preconceito que eu tinha sobre Alvorada e como todo preconceito pra tu quebrar e isso tu tem que entender o outro lado. Então esse livro foi uma forma de eu entender onde eu morava e ver que um dos grandes problemas de Alvorada é o fato que a gente não olha pra nossa própria cidade. Acaba olhando pra capital, Porto Alegre. Principalmente pra capital. Alvorada é uma cidade que não se desenvolve por causa disso, sabe? Quem mora ali está sempre em Porto até os próprios prefeitos não moram na cidade e fazer esse movimento interno foi muito importante pra mim como alvoradense.


HQPOP: Trabalhar com histórias reais exige sensibilidade. Como você equilibra a fidelidade aos relatos e a sua própria interpretação artística?
Pablito Aguiar: Pois é, os quadrinhos ele te dá essa possibilidade, né? De tu poder manipular a narrativa. E isso é muito rico porque te dá possibilidade de contar uma história real. Só que de uma maneira narrativamente interessante, sabe? É o limite que tu tem pra essa construção criativa é a verdade é a é a voz da da pessoa também. Sabe? Então eu procuro ser muito fiel a forma como a pessoa diz a estrutura a frase a ser fiel à essência do que a do que a pessoa me falou sabe porque o objetivo final do meu trabalho é que a pessoa que eu entrevistei se sinta reconhecida naquele quadrinho. Ela não pode pensar, não pode ver outra pessoa no trabalho que eu fiz. Ela tem que se encontrar ali nos meus traços, no meu texto, porque se isso não acontece é porque o trabalho não deu certo. Então por isso também que eu faço sempre questão de mostrar o meu trabalho pra pessoa que eu entrevistei eu quero saber se ela se se reconhece ali e se ela se reconheceu é porque deu tudo certo.

HQPOP: No livro Almoço: uma conversa com Eliane Brum, você transforma um diálogo em uma experiência visual. Como foi traduzir as palavras e a presença dela para o papel?
Pablito Aguiar: Eu acho que todo mundo sabe que eu sou um grande admirador da Eliane Brum ela é a minha principal referência no jornalismo e é a pessoa que eu mais admiro no mundo sabe? Então fazer esse quadrinho foi um sonho e um grande desafio. Então me preparei bastante. Eu já sabia muito sobre ela, mas eu me preparei anotando algumas perguntas que eu sabia que giravam em torno de assuntos que são caros a ela. Como a Amazônia, como a luta dos povos da floresta. Os motivos que fizeram ela sair de São Paulo e ir pra morar em Altamira Enfim o jornalismo ah vários temas que eu achava que eram importantes de estarem registrados em um livro E e envolvi tudo isso ah junto com a delicadeza dela, com a sensibilidade dela enquanto fazia o feijão, o arroz, o almoço. Então então foi isso, foi esse o um pouco do caminho que me levou a fazer o livro Almoço.
HQPOP: Você atua como repórter-quadrinista na Sumaúma – Jornalismo do Centro do Mundo. Como funciona sua rotina de trabalho nessa plataforma?
Pablito Aguiar: Hoje em dia eu trabalho como repórter quadrinista pra Sumaúma e estou morando aqui em Altamira faz um mês e meio e eu trabalho toda semana de segunda a sexta na redação. Na sede aqui de Sumaúma que fica em Altamira. E está sendo muito enriquecedor assim. Eu estou aprendendo muito podendo estar do lado da Li do jornalistas florestas aqui da região formados por Sumaúma a Ju, o o enfim eu estou assim está sendo uns um um grande grande aprendizado assim todo dia cheio de desafios e em alegrias.

HQPOP: O Brasil tem uma forte tradição de quadrinhos, mas o jornalismo gráfico ainda é um nicho. Como você enxerga o futuro dessa linguagem no país?
Pablito Aguiar: É muito potente e por isso que o jornalismo é tão importante sabe? Ele escuta e conta pra outras pessoas e faz essa comunicação, essas mensagens irem para para essas mensagens atingirem mais pessoas e quando uma história encontra outra outra outras histórias acaba acontecendo coisas assim que às vezes tu nem imagina sabe? Uma matéria jornalística pode salvar vidas às vezes. Sabe? Pode denunciar crimes pode Enfim é muito potente o quadrinho ele é mais uma forma de comunicar o jornalismo em quadrinhos é mais uma forma de comunicar histórias reais e por isso que tem muita potência essa linguagem e eu acredito muito nisso sabe? Por isso que eu que eu trabalho com jornalismo em quadrinhos.

HQPOP: Se pudesse escolher qualquer história ou figura para transformar em HQ, sem limitações, qual seria e por quê?
Pablito Aguiar: Se eu pudesse escolher qualquer história ou figura eu agora estou na Amazônia né? Trabalhando aqui em Altamira e eu estou muito interessado em desenhar as histórias daqui o povo que vive da floresta enfim quero conhecer essa região enquanto desenho sabe? Mas se fosse pensar em famoso pra desenhar eu penso muito na Laerte também eu acho que eu gostaria de conversar com ela, conhecê-la e desenhar um um pedacinho assim da da vida da Laerte acho que seria muito rico também enfim mas são tantas pessoas né? Tantas vidas pra serem desenhadas e pouco tempo.




