abril 15, 2025
Literatura

Pearl Jam ganha biografia musical em “Long Road”

Crítico Steven Hyden traça a jornada da banda com olhar afiado e sensível, faixa por faixa, geração por geração

Se tem uma banda que sempre preferiu o som cru da honestidade ao ruído ensurdecedor da fama, essa banda é o Pearl Jam. Em Long Road: Pearl Jam e a trilha sonora de uma geração, o crítico musical Steven Hyden não só entende isso — ele entrega uma narrativa que pulsa com o mesmo senso de urgência, introspecção e resistência que Eddie Vedder e companhia carregam desde os dias turbulentos do grunge nos anos 90.

O livro, que chega ao Brasil pela Belas Letras, constrói uma espécie de mixtape biográfica: 18 faixas, escolhidas a dedo, que funcionam como estações de rádio sintonizadas nos momentos decisivos da banda. Mas não espere uma coletânea óbvia ou nostálgica. Hyden vai fundo. Ele abre espaço para os lados B, para as dores não ditas, para a recusa em dançar conforme o videoclipe — literalmente.

A seção dedicada a “Jeremy”. Hyden revisita os bastidores do clipe que colocou a banda no centro do furacão cultural e marcou o começo de uma rejeição à exposição midiática. Já a história por trás de “Better Man” — escrita por Vedder ainda na adolescência e quase descartada por ser “pop demais” — revela o conflito eterno entre o instinto artístico e a autossabotagem criativa.

Mas o autor não para na superfície. Ao comparar o Pearl Jam ao Grateful Dead, Hyden escancara o real legado da banda: a construção de uma comunidade viva, orgânica, baseada na experiência dos shows e não no hype de lançamento. A turnê de 2000, com seus lendários bootlegs oficiais, é retratada como um divisor de águas — um ato de reconexão, maturidade e resistência.

Com texto fluido, recheado de referências culturais e zero medo de mergulhar nos silêncios entre as faixas, Long Road mostra por que o Pearl Jam é uma banda que sobreviveu ao grunge. Que sobreviveu a si mesma. E que, mesmo em tempos de algoritmos e descartáveis, ainda tem algo real a dizer — mesmo que em voz baixa.

Editor
Ilustrador, cartunista e quadrinista com mais de 30 anos de carreira. Premiado internacionalmente, destaca‐se pela crítica ácida e humor irreverente. Agora, como editor do HQPOP, ele traduz a cultura pop com ousadia e criatividade.

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