junho 18, 2025
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Por que a cultura pop virou refém eterna da nostalgia

Lilo & Stitch ganha novos pôsteres com referências a clássicos da Disney

De Hollywood aos games: entenda como a nostalgia virou a principal moeda da cultura pop, alimentando reboots, remakes e reprises sem fim.

A cultura pop mergulhou de cabeça no passado – e parece não querer sair de lá tão cedo. Em vez de criar novas histórias, estúdios de cinema, produtoras de séries, desenvolvedoras de games e até artistas da música estão preferindo revisitar o que já funcionou antes. Reboots, remakes, sequências tardias e até “homenagens disfarçadas” de originalidade são a nova regra do jogo.

E o motivo é simples: nostalgia vende.

Nostalgia virou a moeda mais segura da indústria

Quando um estúdio decide lançar mais uma versão live-action de um clássico da Disney ou reviver uma série de TV dos anos 90, não é por falta de ideias. É uma escolha calculada. O público já conhece, já tem apego emocional e, mais importante: já consome. Dados de bilheteria e streaming confirmam: filmes como O Rei Leão (2019) e Jurassic World (2015) explodiram em arrecadação global.

Getty Images

A lógica por trás disso é brutalmente comercial: apostar em marcas conhecidas significa menor risco de prejuízo. Em uma indústria cada vez mais controlada por algoritmos, analytics e previsões de engajamento, a palavra de ordem é segurança.

Público quer conforto… e as redes sociais alimentam isso

Além da segurança financeira, existe o fator emocional. Assistir ao reboot da sua série preferida ou jogar uma versão remasterizada daquele game da infância ativa uma descarga de dopamina imediata.

Pesquisas mostram que nosso cérebro é programado para idealizar o passado. O que era ruim, a gente esquece. O que era bom, a gente aumenta na memória. E as redes sociais fizeram isso virar um ciclo sem fim: hoje, adolescentes que nunca assistiram uma novela da Globo dos anos 2000 viralizam memes da Nazaré confusa.

O fenômeno da “saudade do que não vivi” é real e virou combustível para o mercado.

Games, TV, cinema e música: ninguém escapa

Nos games, a febre é de remakes e remasters: Resident Evil 4, Final Fantasy VII Remake e The Last of Us Part I são só a ponta do iceberg. No cinema, além da enxurrada de live-actions da Disney, franquias como Star Wars, Batman e Indiana Jones seguem sendo recicladas com novas roupagens e efeitos atualizados.

A Capcom lançou o remake de Resident Evil 4, inspirado no game homônimo de 2005. Reimaginado para 2023, Resident Evil 4

Na música, o revival vai de festivais temáticos (com line-ups saudosistas) a tendências sonoras que imitam décadas passadas, como o atual boom do pop anos 80 e 90 com artistas como The Weeknd e Dua Lipa.

O preço da falta de risco: criatividade sufocada

O problema? O espaço para narrativas inéditas está cada vez menor. Estúdios e gravadoras têm medo de errar. E quando investem no novo, querem que ele pareça velho. Não é à toa que até filmes teoricamente originais são recheados de referências, easter eggs e fan services.

Mas os seres humanos não querem isso. Eles querem novidade. Querem sentir coisas novas, viver coisas novas, ver coisas novas. Então acho que está tudo meio bagunçado agora. Disse Dakota Johnson.

Dakota Johnson, estrela de Madame Teia, já criticou abertamente esse modelo. Segundo ela, a indústria prefere repetir fórmulas a arriscar novas ideias. No Brasil, diretores e roteiristas independentes também denunciam: filmes e séries autorais mal conseguem espaço nas grandes plataformas.

Existe saída?

Sim. Exemplos como Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo e até o sucesso inesperado de Barbie mostram que ainda há público faminto por novidades. Mas a indústria precisa ter coragem de bancar esses riscos. Caso contrário, continuaremos presos no eterno looping de nostalgia, consumindo as mesmas histórias, com novos figurinos e filtros de Instagram.

Enquanto isso… alguém aí já confirmou o próximo reboot da vez?

Editor
Ilustrador, cartunista e quadrinista com mais de 30 anos de carreira. Premiado internacionalmente, destaca‐se pela crítica ácida e humor irreverente. Agora, como editor do HQPOP, ele traduz a cultura pop com ousadia e criatividade.

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