abril 18, 2025
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Por que filmes baseados em videogames continuam falhando?

Mortal Kombat 2: Karl Urban é Johnny Cage em cartaz do filme.

Mesmo com avanços técnicos e narrativos, adaptações de jogos para o cinema continuam enfrentando desafios para conquistar crítica e público.

É praticamente um consenso: filmes baseados em videogames, na média, são ruins. Sim, você pode gostar de Mortal Kombat (1995), e tudo bem. Mas tente defender uma nota 34 no Rotten Tomatoes como se fosse um marco do cinema. Spoiler: não é.

Mortal Kombat – Filme 1995, nunca falaremos mal.

Desde os anos 1990, adaptações cinematográficas de videogames têm sido sinônimo de decepção. Títulos como Super Mario Bros. (1993) e Street Fighter (1994) estabeleceram um padrão de fracassos que, de certa forma, perdura até hoje. Mesmo com o sucesso comercial de alguns filmes, a crítica especializada frequentemente aponta falhas na transposição das narrativas interativas dos jogos para a linguagem linear do cinema.

A verdade é que, por décadas, Hollywood pareceu incapaz de entender o que faz um jogo funcionar — e por que isso não se traduz diretamente para as telonas. Exemplo? Final Fantasy: The Spirits Within (2001). Foi tão ambicioso quanto desastroso: efeitos visuais ultrarrealistas, um orçamento astronômico e… nada de alma. Custou caro o suficiente para quase afundar a Square.

E se você acha que esse é um problema recente, vale conhecer Uwe Boll. O diretor alemão usou brechas em leis de incentivo fiscal para dirigir uma série de adaptações que vão de Far Cry a Alone in the Dark, com notas que variam entre o catastrófico e o cômico involuntário. O resultado? Um verdadeiro cemitério de más ideias.

Outro problema recorrente é a falta de familiaridade dos cineastas com o material original. Justin Kurzel, diretor de Assassin’s Creed (2016), admitiu que não jogava videogames desde Double Dragon, em 1994. Essa desconexão pode levar a adaptações que ignoram o cerne do jogo — ou pior, focam justamente nas partes menos interessantes da trama.

Sonic antes e depois: redesign salvou o filme do ouriço.

A franquia Sonic exemplifica bem essa dificuldade. O primeiro trailer de Sonic: O Filme (2020) foi amplamente criticado pelo design do personagem, que tinha uma aparência humanizada e distante do visual clássico. A repercussão foi tão negativa que o estúdio decidiu adiar o lançamento para redesenhar completamente o ouriço. O custo da mudança? Menos de US$ 5 milhões. O impacto? Gigantesco. O novo design, mais fiel ao original, foi celebrado pelos fãs e contribuiu para o sucesso do filme.

Também há o equívoco de achar que a popularidade de um jogo automaticamente garante um bom filme. Silent Hill e Prince of Persia provaram o contrário. Fama não se converte, necessariamente, em profundidade narrativa — e nem em bilheteria.

Claro, existem exceções. A geração que cresceu jogando Warcraft, Tomb Raider ou Metal Gear agora está assumindo o controle criativo. Diretores como Duncan Jones, Alicia Vikander (que conhecia bem a trajetória de Lara Croft) e Jordan Vogt-Roberts, o queridinho de Hideo Kojima, mostram que, quando há envolvimento e respeito pelo material original, o resultado pode surpreender.

Jordan Vogt-Roberts vista Kojima em seu novo estúdio. Foto/reprodução

​O filme “Mortal Kombat” (2021) marcou o retorno da franquia aos cinemas com uma abordagem mais sombria e fiel ao jogo original. Apesar de críticas mistas, o longa conquistou uma base sólida de fãs, garantindo a produção de uma sequência. A expectativa para “Mortal Kombat 2” é alta, prometendo mais ação, novos personagens icônicos e um torneio que definirá o destino de Earthrealm.​

A sequência, prevista para estrear em 24 de outubro de 2025, contará com a introdução de personagens clássicos como Johnny Cage, interpretado por Karl Urban, e Kitana, vivida por Adeline Rudolph. Além disso, o filme trará de volta figuras do primeiro longa, como Scorpion (Hiroyuki Sanada) e Sub-Zero (Joe Taslim), prometendo elevar a intensidade das batalhas. Com a promessa de mais violência gráfica e fidelidade ao material original, “Mortal Kombat 2” busca corrigir os erros do passado e entregar uma experiência cinematográfica à altura da franquia

Mortal Kombat 2: Karl Urban é Johnny Cage em cartaz do filme.

Mas existe uma questão mais profunda: os games são sobre controle. Sobre tomar decisões, explorar, errar e tentar de novo. O prazer de derrotar um chefão, de encontrar um segredo, de viver a história com as próprias mãos. O cinema, por melhor que seja, é uma experiência passiva. Tira de você o joystick — e, com ele, parte da mágica.

Talvez a gente continue querendo ver nossos jogos favoritos nas telonas como uma forma de validar o amor que temos por eles. Mas, até que Hollywood realmente entenda que adaptar é diferente de copiar, vamos continuar esperando — e nos decepcionando.

Enquanto isso, pelo menos os jogos continuam sendo bons.

Editor
Ilustrador, cartunista e quadrinista com mais de 30 anos de carreira. Premiado internacionalmente, destaca‐se pela crítica ácida e humor irreverente. Agora, como editor do HQPOP, ele traduz a cultura pop com ousadia e criatividade.

4 Comentários

  • Pedro abril 16, 2025

    A verdade é simples: até hoje, nenhum filme baseado em videogame conseguiu ser mais que uma cutscene estendida com roteiro preguiçoso e atuações recicladas.

  • Neto Leão abril 16, 2025

    Não é tarefa fácil, são histórias que não se coadunam, parecem ser de naturezas diferentes por que no vídeo game o objetivo é completamente do objetivo do filme e filmes baseados em videogames podem falhar por diversos motivos, como a dificuldade de traduzir a interatividade dos jogos para o cinema. Os jogos envolvem o jogador, que pode fazer escolhas que afetam a história. O jogador pode se confundir com o personagem, criando um elo que é difícil de traduzir para o cinema. O filme pode focar apenas na ação, sem perceber que a ligação emocional com o jogador é criada de outras formas. Bom, matéria digna de reflexão.

  • Yan abril 16, 2025

    kkkkkk realmente! filme de jogo é sempre ruim mesmo…

  • Roberto Oliveira abril 16, 2025

    Acho que se fazer um mais ousado melhora. Mais próximo do lado original digo eu.

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