Produção aclamada mergulha na radicalização de jovens e levanta debate sobre masculinidade tóxica.
“Adolescência”, uma série impactante que expõe a influência perigosa de influenciadores misóginos sobre os jovens. A trama segue um garoto de 13 anos acusado do assassinato de uma colega e revela como conteúdos online moldaram sua visão de mundo de forma destrutiva.
Criada por Stephen Graham e Jack Thorne, a série se destaca por sua abordagem crua e intensa, com episódios filmados em plano-sequência. Autoridades britânicas, incluindo o primeiro-ministro Keir Starmer, elogiaram a produção e sugeriram seu uso educativo para combater a misoginia.
Além da aclamação crítica, “Adolescência” gerou discussões sobre a necessidade de regulamentação das redes sociais e da criação de uma “idade digital de consentimento”. Com uma narrativa poderosa, a série alerta para os perigos da radicalização online e reforça a urgência de educar as novas gerações sobre igualdade e respeito.
Códigos, emojis e o comportamento dos jovens nas redes
Um dos aspectos mais chocantes de Adolescência é a forma como a série expõe os códigos secretos e emojis usados por jovens em fóruns e redes sociais para disseminar discursos de ódio sem chamar a atenção de moderadores ou responsáveis. O uso de símbolos aparentemente inofensivos, como emojis de frutas, animais e números, esconde significados preocupantes.

Na série, os adolescentes compartilham mensagens codificadas para identificar uns aos outros e reforçar ideais misóginos. Por exemplo, a abelha 🐝 pode representar uma referência a “Beta” (um termo usado para designar homens considerados submissos), enquanto o emoji de caveira 💀 pode indicar apoio a discursos violentos contra mulheres. Além disso, códigos numéricos como “731” ou “404” são utilizados para se referir a situações em que um homem teria sido “ignorado” ou “rejeitado” por uma mulher, reforçando o ressentimento dentro dessas comunidades.
Quem são os incels e como eles se organizam?
O termo incel vem do inglês involuntary celibate (celibatário involuntário) e se refere a homens que acreditam ser rejeitados romanticamente pelas mulheres. Inicialmente, a palavra surgiu em fóruns de apoio a pessoas que enfrentavam dificuldades de relacionamento. No entanto, ao longo dos anos, o termo foi apropriado por grupos extremistas que culpam as mulheres por suas frustrações e promovem discursos de ódio e violência.
A série mostra como adolescentes são atraídos para essas comunidades através de vídeos virais e influenciadores que pregam uma visão deturpada da masculinidade. A radicalização ocorre de forma gradual, com conteúdos aparentemente inofensivos sobre autoestima e sucesso pessoal evoluindo para discursos agressivos sobre controle e submissão feminina.
Casos reais de crimes cometidos por jovens ligados a essa ideologia são mencionados na série, reforçando o impacto que essas comunidades podem ter no comportamento de adolescentes em formação. Em muitos casos, a falta de monitoramento por parte dos pais e educadores permite que esses jovens mergulhem cada vez mais fundo em conteúdos nocivos, muitas vezes sem que ninguém perceba até ser tarde demais.
O impacto social e o debate necessário
Ao abordar esses temas de maneira realista e sem romantizar a violência, Adolescência não apenas choca, mas também provoca um debate necessário sobre a responsabilidade das redes sociais na disseminação desses discursos. Além disso, a série alerta para a importância da educação digital e do acompanhamento dos pais na vida online dos filhos.
A repercussão da produção já chegou a órgãos governamentais e especialistas em segurança digital, que defendem a criação de regulamentações mais rígidas para proteger os jovens do contato com discursos de ódio e da manipulação por parte de grupos extremistas.
Com uma narrativa envolvente e um alerta contundente, Adolescência se consolida como um dos lançamentos mais impactantes do ano e uma ferramenta essencial para a discussão sobre os perigos da radicalização online.