Manifestantes no HQMIX 2024 exigem maior representatividade no mercado de quadrinhos, enquanto a premiação celebra avanços e homenageia a diversidade com a estatueta inspirada na personagem Muriel, de Laerte.
Na última quarta-feira, 11 de dezembro, o Troféu HQMIX realizou sua 36ª edição no Teatro Raul Cortez, em São Paulo. Conhecido como o “Oscar dos Quadrinhos Brasileiros”, o evento celebra anualmente as melhores publicações e os profissionais de histórias em quadrinhos do país. Embora tenha sido uma noite marcada por conquistas e avanços, um protesto em prol de maior diversidade entre os indicados e vencedores roubou parte dos holofotes da premiação.
O Protesto por Mais Representatividade
Durante a cerimônia, um grupo de manifestantes se posicionou, clamando por maior inclusão de obras e artistas periféricos, racializados e oriundos de regiões fora do eixo Sul-Sudeste. Apesar de avanços visíveis desde a edição de 2023, quando críticas semelhantes foram feitas, os manifestantes argumentaram que ainda há um longo caminho a ser percorrido.
“Eu acho que a gente não pode parar por aí ainda. De todo mundo, só uma pessoa do Norte ganhou, entre muitos que poderiam ter sido indicados. E não dá para esquecer da representatividade de outros tipos de raça, como a indígena e amarela também” afirmou Sâmela Hidalgo, editora de quadrinhos nortista que participou do ato.
Reconhecimento e Homenagens
O HQMIX 2024 trouxe algumas inovações em sua estrutura, incluindo o apoio da Lei Paulo Gustavo e o patrocínio do Governo do Estado de São Paulo. A estatueta, concebida pela cartunista Laerte Coutinho, foi um dos destaques da noite, homenageando a personagem Muriel, que simboliza a transição de gênero tanto da criação quanto de sua criadora.
“Fiquei muito contente dessa personagem ter sido escolhida para constituir o troféu,” disse Laerte em seu discurso. A escolha da estátua foi vista como um marco de representação e inclusão dentro do evento.
Diversidade entre os Vencedores
Nesta edição, a premiação contemplou uma gama mais variada de vencedores, indicando que as críticas feitas em anos anteriores foram consideradas. A Brasa Editora, reconhecida como Editora do Ano, destacou-se ao trazer à tona narrativas brasileiras em obras como Brega Story e Samba – Música Popular em Quadrinhos. Contudo, nomes regionais ainda tiveram pouca presença entre os indicados e vencedores.
“Dos mais de 600 trabalhos avaliados, apenas uma obra do Norte foi premiada. Isso mostra que o mercado ainda não se abriu completamente para as vozes que estão fora do eixo principal do país,” apontou Sâmela Hidalgo.
O Caminho Adiante
Apesar das críticas, o HQMIX segue como uma plataforma fundamental para a valorização dos quadrinhos brasileiros. Gonçalo Júnior, vencedor da categoria de Livro Teórico com A Guerra dos Gibis, enfatizou o papel do prêmio na legitimação dessa arte ainda marginalizada. “Os quadrinhos até hoje continuam sendo vistos como subcultura. Uma premiação como o HQMIX ajuda a mudar essa percepção”, declarou o autor.
Exposição HQMIX 35 Anos de História
Para celebrar mais de três décadas de história, a Biblioteca Parque Villa-Lobos, em São Paulo, abrirá no próximo domingo, 15, uma exposição dedicada à trajetória do HQMIX. A mostra, com curadoria de Gualberto Costa, um dos fundadores do evento, promete trazer uma viagem pela evolução dos quadrinhos no Brasil e vai até fevereiro de 2025.
O HQMIX 2024 foi uma noite de celebrações, mas também de reflexão. A premiação destacou avanços no reconhecimento de obras diversas, enquanto os protestos reforçaram a necessidade de transformações mais profundas no mercado de quadrinhos brasileiro. Como uma arte que reflete e dialoga com a sociedade, os quadrinhos precisam cada vez mais ser um espelho das múltiplas vozes e vivências que compõem o Brasil.
Fonte: Istoe.com.br