Memórias sinceras revelam a origem da banda, os excessos da fama e uma dolorosa jornada de redenção
Em Cured: A História de Dois Imaginary Boys, lançado pela editora Belas Letras, Lol Tolhurst — baterista e tecladista fundador do The Cure — entrega mais do que uma biografia nostálgica: ele mergulha fundo nos fantasmas que assombraram sua juventude, nos laços criativos que moldaram uma geração e nas cicatrizes que a fama deixou.
O livro atravessa sua infância em Horley, onde conheceu Robert Smith, passando pelo nascimento do The Cure e os bastidores de álbuns definitivos como Faith, Pornography e Disintegration. Mas Tolhurst não escreve para impressionar com datas e bastidores: ele busca exorcizar memórias. O vício, a exclusão da banda e a lenta reconstrução da própria identidade são o coração pulsante do relato.

Em uma das passagens mais emocionantes, o reencontro com Smith em uma praia do Havaí encerra anos de silêncio. Sem grandiloquência, sem acertos dramáticos — apenas dois amigos marcados pela música e pela vida. É nesse tom cru, sem heroísmo, que Tolhurst constrói seu livro. Ele não busca perdão, apenas verdade.
O que poderia ser só um compêndio de anedotas vira uma crônica sobre lealdade, autodestruição e, sim, cura. Para fãs do The Cure, o livro é recheado de bastidores, encontros com bandas como Joy Division e ecos da era dourada do pós-punk. Mas o acerto maior está em sua coragem de contar a parte feia da história — e sair vivo dela.

Com edição de luxo (capa dura, pintura trilateral, fitilho e brindes para os primeiros leitores), Cured é uma leitura urgente para quem acredita que rock é mais do que pose: é carne, memória e sobrevivência.

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