Em o livro de algum lugar, Keanu Reeves mergulha fundo em questões existenciais com China Miéville e entrega um épico sujo, brutal e com ambição filosófica
Se existe uma palavra que define o livro de algum lugar, novo lançamento da Editora Jangada no Brasil, é ambição. A parceria entre Keanu Reeves, ícone do cinema pop moderno, e China Miéville, um dos mestres do New Weird, não é apenas improvável — é explosiva. Juntos, eles transportam o universo sangrento e violento de BRZRKR (se pronuncia Berzerker) para uma nova camada: a da linguagem literária, fragmentada, reflexiva e, por vezes, profundamente desconcertante.
Longe de ser apenas um produto derivado, o livro de algum lugar transforma o conceito de spin-off em algo mais. É um manifesto sobre a dor de existir sem limites, uma fábula cybermística sobre identidade, memória e redenção, conduzida por Unute, o anti-herói imortal que já conhecemos das páginas da HQ, agora ainda mais dilacerado e poético. A estrutura do livro é um deleite experimental: mescla narrativas em primeira, segunda e terceira pessoa, em tempos que se sobrepõem como camadas geológicas de trauma.
“Um épico de Keanu Reeves e China Miéville ‘repleto de ação [e] profundamente sofisticado’, diferente de tudo o que esses dois pioneiros do gênero criaram antes, inspirado no mundo dos quadrinhos de BRZRKR.” – Los Angeles Times
A prosa de Miéville, cortante como uma lâmina, oferece ao universo criado por Reeves uma nova densidade. O personagem que antes esmagava crânios agora questiona a própria essência de sua existência. Há passagens que soam como se Cormac McCarthy tivesse escrito uma adaptação de Highlander, com pitadas de ficção especulativa à la Ursula K. Le Guin.
Com a promessa de adaptações em cinema e anime comandadas por Justin Lin, não é exagero prever que estamos diante de uma nova franquia com sede de eternidade. Mas, por enquanto, o livro de algum lugar funciona como uma obra isolada que dialoga tanto com os quadrinhos quanto com leitores sedentos por mais do que ação: há densidade, há estranheza, há verdade.

Se você esperava apenas mais uma graphic novel genérica em forma de romance, pode esquecer. Reeves e Miéville entregam algo muito maior: uma viagem ao abismo que separa o homem da lenda

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