Após denúncias de assédio, má gestão e boicote maciço, Franck Bondoux é retirado da direção do Festival de Quadrinhos de Angoulême 2026. Entenda o futuro do FIBD.
Festival de quadrinhos de Angoulême cede à pressão e afasta diretor
O Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême (FIBD), aclamado como o evento de quadrinhos mais importante da Europa e do mundo, enfrenta uma crise monumental que forçou mudanças drásticas na sua cúpula. Pressionado por uma onda de revolta internacional e boicotes, Franck Bondoux foi afastado da direção-geral da edição de 2026 do festival.
Angoulême está à beira do colapso e corre risco iminente de cancelamento na edição de 2026. Esta situação se intensificou após o governo nacional cortar 200 mil euros em financiamento por “deficiências” na governança.
O Escândalo que abalou a estrutura
Os problemas de gestão na produtora 9e Art+ (ou 9èmeArt+), que comanda o evento, são diversos e persistentes, incluindo acusações de nepotismo, falta de transparência financeira e gerenciamento tóxico. Contudo, o estopim da crise ocorreu após o escândalo central da edição de 2024: uma funcionária da 9èmeArt+, Élise Bouché-Tran, conhecida anteriormente pelo pseudônimo “Chloé”, foi vítima de agressão sexual por um colega durante o evento.

Críticos, criadores e sindicatos descreveram a demissão da vítima como uma retaliação, um padrão de silenciamento.
O Boicote e a revolta #NOFIBD2026
A atitude da empresa galvanizou o movimento “Girlcott” e impulsionou a campanha #NOFIBD2026, exigindo o rompimento do contrato com a 9e Art+.
O boicote tornou-se massivo. Mais de 2.500 signatários, incluindo grandes vencedores do Grand Prix como Anouk Ricard, Art Spiegelman e Posy Simmonds, retiraram seu apoio. Editoras gigantes como Dargaud, Dupuis e Glénat também abandonaram o festival. O Sindicato Nacional da Edição (SNE) alertou que, sem criadores e expositores, o evento “não será mais capaz de acontecer”.
O futuro: afastamento imediato, mudança lenta
Diante da pressão, a associação criadora do festival anunciou o afastamento de Franck Bondoux da organização da edição de 2026.
Apesar desta vitória para a comunidade, a transição será lenta. A produtora 9e Art+ ainda permanecerá como gestora do evento nas edições de 2026 e 2027, devido ao contrato vigente. Uma nova gestão executiva será selecionada por um processo seletivo inédito, com a definição do novo responsável prevista para 18 de junho de 2026. A nova gestão só iniciará seus trabalhos a partir de 2028.
A comunidade de quadrinhos agora observa atentamente se essas manobras conseguirão salvar o FIBD, cuja crise expôs problemas profundos de governança e ética. Pequenos festivais, que focam em jovens criadores em vez de grandes estrelas, estão sendo citados como um possível futuro para a cena de quadrinhos na França.

